Sinais de Liberdade


sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Hipocrisia, Solidariedade ou Marketing?

Depois de uma semana de interregno, volto às reflexões, desta vez tendo como base a notícia que pode ser consultada aqui.


Resumindo, o Bono e o Bob Gedolf foram criticados pelo líder da campanha humanitária African AIDS Action, Jobs Selasie, por supostamente estarem a agravar os problemas de África, pois, segundo ele, campanhas como o Live 8 e o Live Aid apenas contribuiram para aumentar a necessidade de África ser ajudada, uma vez que a dependência dos países africanos em relação ao apoio dado pelos países estrangeiros aumentou de forma bastante acentuada. ("He highlighted the fact that since the original Band Aid campaign the number of Africans living on donations has increased 500%. Also, African governments now rely on 70% of their annual budgets from foreign aid when they used to rely on only 20%.")

Agora a questão que se coloca é se terá ele razão.
Por um lado tem os números do seu lado, por outro há um sem número de pessoas que já foram ajudadas à custa deste tipo de campanhas.

Goste-se ou não do Bono (acho que me posso centrar apenas neste), questione-se ou não as suas razões, o certo é que ele de facto usa a popularidade e imagem que tem para fazer algo de útil. Se ganha alguma coisa com isso? Acho que é mais do que óbvio que sim, e arriscar-me-ia a dizer que é natural que ganhe alguma coisa com isso. Ao fazer esse tipo de concertos de solidariedade, não ganhando nada monetariamente falando (pelo menos é isso em que quero acreditar), ganha em termos de imagem e isso, na sociedade actual vale muito. Mas há muitas outras pessoas que podiam fazer o mesmo e não o fazem, e isso a meu ver é um ponto a favor do Bono. E se o dinheiro que ele consegue com estas campanhas for mesmo destinado para as causas que ele enuncia, acho que não há nada a apontar na sua atitude e suas acções.

No entanto, não consigo não dar razão a Jobs Selasie, pois os países africanos estão a ficar de certa forma a ficar acomodados ao facto de terem sempre ajuda por parte dos ditos países ricos, não desenvolvendo por isso meios que os levem a subsistir por si só. É certo que há muitos lobbies por de trás deste assunto, e falando frontal e directamente, mesmo apoiado no meu pouco conhecimento da matéria, creio mesmo que os principais interessados nesse não desenvolvimento são os próprios países que os ajudam...irónico isto. Porém, não quero com isto dizer que se deva acabar com este tipo de acções, apenas que as utilizem de forma diferente. Citando o provérbio chinês "Não lhes dês o peixe, ensina-os a pescar", acho que uma filosofia apoiada neste provérbio o caminho a seguir. Dando-lhes as bases para se tornarem subsistentes faria não só com que eles deixassem de ser um encargo (palavra um bocado forte, mas que penso ser a mais adequada) para os países ricos, como também desenvolveria efectivamente o seu país, evitando assim que muito do dinheiro que chega através dessas campanhas fosse gasto de maneira errada.

Se calhar estou a ser um bocado utópico...mas pelo menos a meu ver, parecia-me a melhor solução. E o que vos parece a vós? Terá Jobs Selasie razão em criticar o Bono e Bob Gedolf, ou pelo contrário ele deveria permanecer calado e apenas agradecer ao Bono e Bob Gedolf por se interessarem por questões humanitárias?

PS: Foi hoje aprovado em unanimidade pelos 27 membros da União Europeia a criação de um dia Europeu contra a Pena de Morte. Ainda em seguimento do meu último post, foi com um natural sentimento de satisfação que li essa notícia. Quem quiser, pode lê-la na íntegra aqui.

7 comentários:

Leaven disse...

E é continuar...e fazer do último post pior que o que lhe sucede.
Muita qualidade.
Abraço.

Anónimo disse...

davas pra politico rapaz...e até eras um politico empenhado em resolver alguma coisa (digo eu em estado de simpatia).
Ao que parece és mais altruísta que aquilo que aparentas à primeira vista :p

beijo**

Pedro Zambujo disse...

Não falo do Live 8 pois foi realizado apenas para pressionar os líderes do G8 a fazerem alguma coisa em relação a Africa. Agora, durante essa iniciativa, foram mostradas provas de que o Live Aid tinha funcionado. Todos sabemos que muito do dinheiro é mal aproveitado por chefes de estado corruptos mas algum chega a essas populações. Selasie poderá criticar quem encaminha os fundos monetários mas não Bono E Bob que, com hipocrisia ou não, realizam estas inicitivas.

Cada post melhor que o outro. Parabéns.

Anónimo disse...

Antes de mais: parabéns pelo blog Luís!

Gostei de ambos os posts, mas especialmente o de estreia. São discussões de maior interesse e importância, todavia não me vou alongar na dissertação, prefiro debates ao vivo!

Continua a escrever. Vou acompanhar atentamente o teu blog!

Yours sincerely,
JE

meia leca disse...

Luís,

Antes de mais, queria dizer te que é um prazer gigante ver o meu espacinho adormecido como link de uma página tão "formadora".
Depois, se bem me conheces, sabes que poderia deixar aqui mil palavras sobre este assunto... Contudo, vou tentar ser breve e focar apenas alguns pontos.

O que o Bono ou a tão falada Angelina Jolie fazem, não é, a meu ver, algo que se deva recriminar! Eles apenas usam do muito que têm um pouco para ajudar os outros (acho que a isto se chama solidariedade!).
Se lhes traz vantagens para além da satisfação pessoal, é porque a população vê com bons olhos as suas acções. Quanto ao motivo que os leva a agir não é o mais importante! A necessidade é tanta que não interessa o que os leva a ajudar, desde que AJUDEM!
Bem, quanto aos dados do Sr. Jobs Selasie, talvez seja verdade que Africa agora vive mais da ajuda do resto do mundo… Talvez as pessoas que hoje são dependentes, numa situação diferente, estivessem mortas…
Africa precisa tanto de nós. E não somente como mecenas mas como parceiros!

De qualquer forma, acho que seria interessante que todos lêssemos um discurso do presidente da AMI, Fernando Nobre, presente em http://www.fundacao-ami.org/ami/artigo.asp?cod_artigo=150901 . Fica a sugestão!


A propósito, a minha primeira vez como chair na última sessão do Parlamento Europeu dos Jovens deu-me o prazer de debater um tema relacionado com o teu post. Deixo-o para possíveis reflexões:
Committee on Peace and Global Development
“Massive poverty and obscene inequality are such terrible scourges of our times – times in which the worlds boasts breathtaking advances in science, technology, industry and wealth accumulation – that they have to rank alongside slavery and apartheid as social evils.”
(Nelson Mandela, noted in 2005)

What kind of strategy should the EU adopt towards Africa, as a partner in its development and what position should be chosen so the partnership and cooperation may be possible?
Depois, se quiseres, cedo-te a moção que eles construíram… :)


Já me estiquei mais que o prometido… Espero nas próximas visitinhas deparar-me com temas tão interessantes, com informação tão importante, com reflexões tão credíveis como as que já apresentaste. De facto, não se espera outra coisa de ti, Luisinho!

Beijinhos

meia leca disse...

"Contra ti se ergueu a prudência dos inteligentes e o arrojo dos patetas
A indecisão dos complicados e o primarismo
Daqueles que confundem revolução com desforra

De poster em poster a tua imagem paira na sociedade de
consumo
Como o Cristo em sangue paira no alheamento ordenado das
Igrejas

Porém
Em frente do teu rosto
Medita o adolescente à noite no seu quarto
Quando procura emergir de um mundo que apodrece. "

Poema "Che Guevara" escrito por Sophia M. Breyner Andersen, em 1972.


Descobri-o ontem num dos meus livrinhos, já a lua era rainha há muitas horas. "O nome das coisas" para ser mais concreta. Lembrei me de ti. :)

David Luís disse...

s.l.b, slb, slb! ups...blog errado. ah, e ja agora, nada mau. mesmo nada mau! e claro, africa tem de se desenvolver,mas nao se pode desenvolover. nao meu caro. africa tem de ficar onde esta, e se possviel, tranca-la, quardar alguns africanos no zoo e conservar os animais.senao, isto vai pelos ares. e o bono? deixa-o fazer o trabalho dele. dinheiro ja ele tem de sobra. e o gajo que o criticou? sabe cantar?