Sinais de Liberdade


quarta-feira, 14 de maio de 2008

Bob Marley, Che, Cobain...


Sim, a imagem que vêem ao lado está aqui colocada intencional e propositadamente. Para quem não sabe, retrata o herói argentino/cubano Ernesto "Che" Guevara"usando uma t-shirt com a cara do Bart Simpson estampada nela.

Deparei-me com a gravura quando alguém me convidou a exibi-la num popular site de comunidades, como forma de comentário. Situação essa que me colocou na obrigação de explicar o porquê de o ter de rejeitar, uma vez que quem o colocou lá dúvido que tenha percebido a amplitude da imagem, até porque ela, a meu ver tem duas interpretações. Uma que salta logo à vista para quem conhece minimamente a história do Che e o conceito dos Simpsons. A outra, que foi precisamente aquela que me deixou mais curioso ao ponto de até ter achado piada à imagem, é o facto de ao abstrairmos-nos da primeira interpretação, vermos simplesmente um homem a usar uma imagem popular, sobre a qual nada sabe a não ser de que é popular e supostamente é cool andar com ela.
Já explico.

Quem me conhece minimamente, e para isso basta passar por este espaço, de certeza já notou que eu tenho uma grande admiração pelo homem que empresta a imagem ao background. Admiração essa que se estende a nicks de fóruns, IRCs, backgrounds, pins no estojo (obrigado Carlos), e sim, t-shirts também. Posto isto, quem me fez o comment, que por acaso até gosta dos Simpsons, pensou que ao "oferecer-me" a oportunidade de exibir a imagem estaria a meter um bocado dela em mim (metafóricamente falando).
Mesmo assim, a imagem ainda era o Che Guevara com uma camisola dos Simpsons. É o Che, revolucionário argentino que passou toda a sua vida a lutar contra a ascenção do capitalismo - e os EUA por arrasto - a usar uma t-shirt com um dos símbolos-mor da nação que tanto o austerizou em vida.
Para contextualizar ainda melhor: se é certo e sabido que o Che tem imensos admiradores pelo mundo inteiro, não é menos verdade que também não são poucos aqueles que o detestam. E a imagem que aí vêem em cima, é apenas um de muitos cartoons que demonstram esse desagrado para com esta histórica personagem.


Mas o que me leva a escrever isto é mais o conceito de "falsa idolatria", e como exemplo falarei só naqueles que, a meu ver, são os casos mais flagrantes e de fácil percepção.
Bob Marley, Che Guevara e Kurt Cobain (não necessáriamente por esta ordem) devem ser três das personalidades cuja imagem mais vende. Não é necessário andar-se muito para encontrar alguém, seja onde for, que não conheça pelo menos uma destas três personagens, e mais ainda, que tenho algum elemento de merchandising relacionado com eles.
Todos os três estão mortos e por isso heróicamente imortalizados, todos eles representam muito mais do que algum dia sonharam representar, todos eles fizerem mais na pouca vida que tiveram do que muitos povos em todos os séculos de existência, e por isso, são todos eles merecedores de solene homenagem. O Bob Marley como símbolo da luta jamaicana, o Che como símbolo da luta latino/africana e o Kurt como o símbolo de uma geração (a chamada geração grunge).

Bem se tudo isso é verdade, seria de esperar que a "falsa idolatria" não tivesse razão de ser, pois todos os três, de uma maneira ou de outra, goste-se ou não, são personagens que se percebe o porquê de ter seguidores. O que já não se percebe tão bem é por ventura o número tão excessivo de "fãs".
Não é difícil encontrar alguém na rua com uma t-shirt do Bob Morley que não saiba o nome de um único álbum dele. Não é difícil encontrar alguém com uma t-shirt do Kurt Cobain que responda simplesmente "ah e tal, a Smells Like Teen Spirit até era fixolas, o resto já não conheço" quando se lhe pergunta o nome de 5 músicas dos Nirvana. Como também não é difícil encontrar alguém com uma t-shirt do Che e que não saiba algo tão simples como o facto de ele ter sido médico ou que simplesmente desaprovaria o facto de termos apoiado a forma de com oa t-shirt foi produzida. E é deprimente assistir-se a isto, pois estes três exemplos são apenas os mais mediáticos, pois esta "mal" vai desde bandas de bandas de música a partidos políticos, passando entretanto pelas religiões.

Pessoalmente, posso dizer que tenho uma t-shirt do Che - faço desde já o mea culpa - e outra dos Metallica. Do primeiro conheço o suficiente para sentir orgulho em usa-la, o que penso ser significativo, uma vez que li não só coisas boas a seu respeito, mas também vi o que os críticos dizem. Dos segundos conheço o seu trabalho no mundo da música e são a minha banda preferida, e acho que isso diz tudo.

O problema não reside no facto de se ter um ídolo, de se ser fã de algo. O problema reside isso sim no não se saber do que se é fã, e pior ainda, não se saber porque é que se é fã ou porque se gosta de determinada pessoa/ideologia/banda. E isso, infelizmente, acontece cada vez mais.
Necessidade de integração num determinado grupo, necessidade de se ter um ídolo (mesmo que a título fictício, pois não é por se usar a t-shirt com a cara de alguém estampada que nos fará seu ídolo) ou simples tendência de moda, estes são os factores que a meu ver mais contribuem para o crescer deste fenómeno.
Fenómeno este que deve ser combatido, por duas razões: a primeira e mais importante, porque devemos ser nós a pensar pela nossa cabeça, devemos ser nós a fazer as nossas escolhas e seguir apenas aqueles que achemos ser merecedores de serem seguidos e porque, e esta já como segunda razão, não haver nada mais humilhante do que andarmos a dar a cara por algo que nem sequer sabemos o que é... da mesma forma que seria estranho vermos um Che Guevara a usar uma t-shirt dos Simpsons.

1 comentário:

Anónimo disse...

Eu continuo a gostar da t-shirt...